Por Yopanan C. P. Rebello (Professor da YCON)
Uma observação apressada sobre as atribuições do arquiteto pode levar à idéia de que a este profissional só interessa o que está visível, acima da terra, e em casos extremos, quando necessário, alguns pavimentos enterrados para garagens, os subsolos.
Em primeiro lugar o arquiteto é um profissional que pode, e eu até arriscaria a dizer, deve acompanhar obras e se responsabilizar pela sua execução. Só este fato já justifica a necessidade desse profissional conhecer as condições do subsolo, saber quais as soluções técnica e economicamente mais adequadas, assim como as boas normas de execução dessas fundações.
Mesmo para aqueles profissionais que não se interessam pela execução de obras, o conhecimento das propriedades do solo e do seu comportamento, através da interpretação de sondagens, assim como da adequada escolha do tipo de fundação é, na grande maioria das vezes, decisivo na concepção arquitetônica.
A opção por se usar ou não subsolo pode ser feita em função do conhecimento do lençol freático, de sua posição e comportamento ao longo do tempo.
A possibilidade de economizar na solução de fundação, usando subsolos que permitam a compensação do peso do edifício com o do solo retirado é outro fato que está ligado à solução de projeto de arquitetura.
A escolha entre verticalizar ou horizontalizar parte ou o todo do edifício pode ser feita em função do conhecimento do tipo de fundação adequado para o local: se fundação profunda ou rasa.
Nas fundações profundas as cargas da superestrutura são transmitidas ao solo a profundidades acima de 2m, podendo, em algumas situações, atingirem profundidades de até 70 metros ou mais. As fundações profundas são mais caras e, normalmente, com capacidades altas, por isso devem ser bem aproveitadas. Ser bem aproveitadas significa usar cargas mais altas nos pilares, ou seja, concentrar cargas.
Concentrar cargas, por sua vez, significa verticalizar o edifício ou criar vãos maiores entre pilares, Situações que obviamente interferem radicalmente com o projeto arquitetônico. Ao contrário, nas fundações rasas, as cargas são distribuídas ao solo nas primeiras camadas, daí seu nome. Nesse tipo de fundação há sempre a possibilidade de pequenos, mas sensíveis acomodações do solo, mesmo que ele seja resistente.
Nas fundações rasas são mais indicadas cargas baixas, o que significa horizontalizar o edifício, ou fazer com que os vãos entre pilares sejam menores. Pilares mais próximos geram superestruturas mais rígidas o que é favorável nas fundações rasas, pois estruturas mais rígidas garantem acomodações de fundação mais uniformes e menos prejudiciais para o edifício.
Conhecer quando e como ocorrem os recalques diferenciais, assim como as possibilidades de se minimizar seus efeitos danosos, ainda na fase de projeto, pode ser decisivo na concepção arquitetônica.
Como pensar projetos de reformas nos quais a opção por uma solução de arquitetura pode, ou não, gerar a necessidade de reforços de fundações. Como enfrentar esses reforços sem tornar o sonho do cliente um grande pesadelo. São decisões que estão diretamente ligadas ao conhecimento do comportamento das fundações.
Essas são apenas algumas das inúmeras situações em que um assunto, como fundações, à primeira vista distante da escolha da solução arquitetônica, aproxima-se dessa de maneira dramática. Na verdade ao se ter um domínio adequado do comportamento do solo e das fundações, será mais fácil descobrir outras interfaces, aparentemente inexistentes, entre arquitetura e fundação, que poderão orientar o arquiteto na concepção de um projeto mais inteligente.